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O PROJETO

Apropriação do território e dinâmicas socioambientais no Cerrado:

Biodiversidade, biotecnologia e saberes locais

  

1. Qualificação do principal problema a ser abordado

 

Introdução

 

Este projeto visa estudar os jogos de atores envolvidos no processo de apropriação do território e da gestão dos recursos do Cerrado perante a globalização. País emergente no palco econômico internacional, de grande biodiversidade, o Brasil é submetido a diversas exigências contraditórias e deve arbitrar, na escala de seu próprio território, entre desenvolvimento econômico e conservação da natureza.

De fato, o Brasil tem que obedecer às regras da Organizaçao Mundial do Comércio, a OMC, e, simultaneamente, aos objetivos de conservação da Convenção sobre a Diversidade Biológica – CDB, adaptando-os à sua própria realidade econômica, política e cultural. Ao mesmo tempo, ele tem que procurar seguir as proposições do quadro referencial do desenvolvimento sustentável e implementar uma nova geração de direitos relativos às populações e à propriedade intelectual, dentre outros, que revolucione as relações de poder nas  diversas escalas globais,  regionais e locais. Estas novas dinâmicas revelam conflitos complexos de apropriação pelos recursos fundiários e biológicos.

Por um lado, o Brasil aparece no cenário mundial como o segundo maior exportador de soja e é lider na produçao de biocombustivel produzido a partir da cana-de-açúcar. Por outro lado,  segundo Dias, apud Nordari e Guerra (1999), o Brasil é também o país com a maior diversidade genética vegetal do mundo, contando com mais de 55 mil espécies catalogadas de um total estimado entre 350 mil e 550 mil. As oportunidades para a identificação de produtos com possíveis utilizações econômicas aumentam com a diversidade das espécies.

Neste contexto, o Cerrado assume um papel remarcável, abandonando uma condição de ecossistema desprovido para ser visto como território de intensa dinâmica social e ambiental configurando-se como um objeto político.

O Bioma Cerrado - objeto político em emergência

 Enquanto a Amazônia tornou-se um emblema de conservação em escala nacional e internacional tanto para a biodiversidade quanto para as mudanças climáticas, o Cerrado foi reverenciado, durante muito tempo, apenas pelo seu potencial agrícola – o que acabou por obscurecer os demais recursos.

A localização do Cerrado entre os espaços mais densamente ocupados (Sul e Sudeste do Brasil) e a Região Norte possibilitou um sistemático processo de integração que, desde os anos de 1950, passou a constituir-se em uma extensa fronteira agrícola propiciada pela sua capacidade de receber população e seu potencial econômico a ser explorado. Atentos a estas características, os investidores governamentais e multilaterais procuraram transformar esta região do Cerrado em um grande produtor, principalmente, de grãos, para o abastecimento do mercado mundial. A soja, o milho e a pecuária foram seleccionados como os principais produtos de destaque regional, bem como a mineração e a silvicultura.

Para o ideário desenvolvimentista que caracterizou as principais políticas governamentais desde a década de cinqüenta do século XX, as vastas terras do Cerrado significavam e ainda significam um espaço com viabilidade econômica. A expansão da monocultura da soja e mais recentemente a nova saga de produção de cana-de-açúcar e de etanol, embora venham favorecendo a balança comercial brasileira e a economia nacional, também estão afetando sensivelmente o ecossistema e as populações locais.

Desde a CBD, a riqueza ecológica do cerrado foi lentamente reconhecida e fez este bioma ser considerado hoje como um dos hot spots de biodiversidade do planeta, ou seja, uma das zonas de grande diversidade biológica, porém, das mais ameaçadas pela intervenção humana. O Cerrado é o segundo ecossistema brasileiro em extensão, compreende todo o Centro-Oeste do país, espraia-se por outros estados tanto da região Nordeste como do Sul, ocupa quase a quarta parte do território nacional e prolonga-se além da fronteira com a Bolívia. É, assim, tida como a maior savana tropical do mundo em área contínua de um único país. Todavia, apenas 1,5% de seu território encontra-se protegido na forma de Unidades de Conservação. Agrava-se, portanto, o equilíbrio ecossistêmico e, com a destruição sistemática a que a região é submetida, o país perde um potencial biológico e uma importante alternativa socioeconômica baseada na utilização sustentável da diversidade biológica do Cerrado.

 Proposta de pesquisa

 A pesquisa em tese pretende evidenciar a multiplicidade das formas de ocupação do território (agronegócios, áreas protegidas, terras indígenas, agricultura familiar, etc.), a partir de uma investigação geral sobre o uso e apropriação da biodiversidade na ocupação do Cerrado e sobre as modificações das relações sócioeconômicas e culturais no território. Por meio de uma perspectiva reflexiva, busca-se compreender o dinamismo do uso e gestão do Cerrado e a diversidade da interpretação da biodiversidade e da biotecnologia.

A ênfase é colocada sobre as relações de força entre os atores envolvidos e os argumentos que eles defendam para justificar seus posicionamentos e atividades. Estes argumentos podem pertencer a diferentes níveis de legitimações e podem ser  estruturados por instrumentos de valorização das práticas tais como as de proteção do saber popular, selo orgânico, indicações geográficas, patentes, certificação do carbono, dentre outros.

Neste âmbito, considera-se o território do Cerrado como um espaço onde se manifestam as novas possibilidades de exploração agrícola que remodelam as relações tradicionais entre o homem e o seu ambiente. Nesta pesquisa prevê-se discutir a noção de « sustentabilidade » como o quadro onde se confrontam a necessidade do desenvolvimento econômico e social, e a conservação ambiental. Com este viés interpretativo, prioriza-se uma reflexão sobre a natureza, cultura e desenvolvimento, espelhados no território que tem, nesses últimos vinte anos, sofrido transformações intensas através de novas formas de exploração com as inovações biotecnológicas.

Neste caso, o território será discutido, por meio de temáticas de pesquisa complementares, sobretudo, como produto de um discurso e de um aparelhamento da cultura dita ecossustentável. Estas temáticas são respeitantes a três conjuntos de sujeitos sociais: a) populações locais e tradicionais; b) povos indígenas; c) políticos e empresários. Com eles construímos três eixos de estudos que modelam os objetivos e questionamentos:

 1. Conhecimento popular e valorização das práticas sócio-culturais.

 Terá como base as populações tradicionais do Cerrado em Goiás e do oeste baiano, buscando a compreensão destas sobre a conservação e apropriação da biodiversidade.

2. Terras indígenas: território, cultura e acesso aos recursos naturais.

A visão que estas populações possuem da biodiversidade é resultante de uma cultura particular na apropriação do território, no conhecimento local e na conservação do Cerrado. Esta tríade será interrogada no contexto de transformações culturais em curso.

 3. Biotecnologias, agronegócio e agricultura orgânica.

Nas últimas décadas houve uma extensa e rápida ocupação do espaço agrícola com novos produtos. Há uma diversidade de atividades, a destacar: agricultura de precisão (soja, cana-de-açúcar) e o surgimento dos transgênicos, a pecuária intensiva com a melhoria genética dos rebanhos, a produção de frangos e ovos em escala, lavouras de subsistência, a agricultura orgânica - estas duas últimas resistindo ao modelo modernizador, resultantes da biotecnologia.

 

2. Objetivos gerais e metas a serem alcançados

 

- Entender quais são as novas concepções de Biodiversidade e de Biotecnologia discutidas nas instâncias globais como Congressos Internacionais, Convenções do Meio Ambiente e nas publicações científicas;

- Caracterizar e analisar como a globalização tem se interessado pelo uso e apropriação da Biodiversidade e ocupação do Cerrado nas diversas instâncias;

- Despertar o interesse pelos efeitos da reabilitação e da valorização dos saberes tradicionais das populações sob dois ângulos: o ângulo da propriedade intelectual (ligado à utilização ex situ dos recursos genéticos e dos saberes, fundamentalmente pelas empresas do setor farmacêutico, cosmético ou sementeiro); e o ângulo das questões da gestão in situ dos recursos naturais;

- Analisar de que forma as populações locais têm se organizado frente às exigências do mercado global da Biodiversidade;

- Compreender a apropriação do território agrário no Cerrado goiano, a partir da análise da ação dos atores sociais do agronegócio e da pequena produção, tendo como ênfase o uso da biotecnologia e seus efeitos na biodiversidade;

- Discutir a utilização das biotecnologias no Cerrado e sua interferência na preservação da biodiversidade desse bioma no que diz respeito à cana-de-açúcar, aos organismos geneticamente modificados e à produção da soja;

- Proceder à análise da utilização dos conhecimentos biotecnológicos no contexto do agronegócio, sua interferência na preservação da biodiversidade do Cerrado e os impactos nos hábitos e saberes da população tradicional;

- Caracterizar e analisar os sistemas de manejo e as técnicas utilizadas na gestão do Cerrado em instituições oficiais, associações de agricultores, e organizações não governamentais;

- Analisar as ações governamentais, via Ministérios e Secretarias Estaduais, concernentes às novas ocupações do espaço agrícola e expansão da biotecnologia e conservação da biodiversidade.

 As metas principais são:

            A. Cruzamento dos objetivos gerais para explicar de forma integrada e globalizada as transformações em curso do Cerrado;

B. Articulação das escalas internacional, nacional, regional e local dos fenômenos pertinentes à biotecnologia e à biodiversidade;

C. Avaliação da coerência das políticas concernentes ao Cerrado para subsidiar as futuras proposições governamentais.

 3. Problematização

 

A biodiversidade é considerada como elemento importante na consolidação do território e na formulação de estratégias de desenvolvimento articulando uma nova relação entre natureza e sociedade em contextos globais da ciência, da cultura e da economia. Frente ao Cerrado, existe uma pluralidade de valores, o que nos faz afirmar que a natureza é um conceito plural.

A biodiversidade é uma invenção discursiva recente, resultante de uma situação concreta face à crescente destruição da natureza e à perda da diversidade ecológica. Esta preocupação nova com a natureza coloca em debate a sua instrumentalização e uma reconsideração da construção simbólica da mesma. Se os recursos naturais são de interesse econômico para a comunidade, sua importância econômica é também crescente. Novos produtos são desenvolvidos graças a biotecnologias, criando novos mercados. Para a sociedade, a biodiversidade é também um campo de trabalho e lucro. É necessário estabelecer um manejo sustentável destes recursos. Dessa forma o papel da biodiversidade passa a ser um espelho das nossas relações com as outras espécies de seres vivos, uma visão ética dos direitos, deveres, e de educação. A conservação da diversidade biológica tornou-se uma preocupação global. Apesar de não haver consenso quanto ao tamanho e ao significado da extinção atual, ela é considerada essencial.

Neste debate, a preservação das identidades, dos valores culturais e o enraizamento a terra aparecem como um suporte da biodiversidade, da resiliência e da complexidade do ecossistema. Podemos questionar as capacidades das populações que habitam as matas, cerrados e as áreas rurais onde se expressam sua cultura ecológica de manter a base de recursos como legado de um patrimônio histórico e cultural.

A ressignificação da natureza pelo discurso da biodiversidade ainda não está de todo assimilado pelas populações tradicionais do Cerrado. Assim, estas desconhecem ou ainda minimizam o potencial que elas possuem para os projetos econômicos baseados em biotecnologia, atrativo para estas populações na medida em que pode oferecer oportunidades para melhorar as condições de vida, evitando a destruição da natureza e das culturas locais. Cresce até um discurso de que as respostas a problemas regionais específicos estariam no desenvolvimento das biotecnologias. Por isso, o sucesso delas depende, em grande parte, do estoque de conhecimento acumulado ao longo do tempo, isto é, da cultura ecológica pelos agricultores e populações nativas sobre plantas medicinais, espécies, variedades nativas, sistemas de manejo, etc. Sob esta perspectiva, a defesa cultural e territorial que é reivindicada por estas populações transforma-se em um valioso instrumento de conservação da biodiversidade que interessa a todos os atores e sujeitos sociais.

Entretanto, se o interesse pela biodiversidade implicará em novas formas de colonização da paisagem natural e cultural ou se contribuirá na criação de novas possibilidades e horizontes para as comunidades locais, esta é uma questão em aberto.

Estamos presentemente, do ponto de vista epistemológico, no limiar de duas visões da natureza: aquela naturalista que reduz ou privilegia o significado da natureza em seus aspectos físicos e biológicos, dissociando a natureza da sociedade e uma visão socioambientalista que, além do natural, leva em conta o homem, as relações sociais e as suas ações.

As questões políticas que dizem respeito ao ambiente ou ao “natural”, quando conduzidas em alguns meios acadêmicos, terminam, em sua maioria, por transformar-se em questões do tipo científico e tecnológico o que finda por despolitizar o debate sobre a natureza. Isso não é um consenso. A existência de um interesse maior sobre a Amazônia é decorrente de movimentos sociais e de uma politizição que ocorrem a partir dos anos 1980. No caso do Cerrado, isto ocorre após os anos 1990 com o movimento ambientalista e com a emergência de uma categoria de “povos cerradeiros”.

Além disso, considerar a ciência como fonte de autoridade universal e de legitimidade do conhecimento revela uma concepção de ver o mundo e a vida, e desloca para a margem um encontro com outras cosmologias e outras culturas. Isto tem como conseqüência um processo de invisibilidade de práticas e saberes de outras sociedades como formas viáveis de socialização.

Paralelamente, cada vez mais pesquisadores culturais demonstram que as comunidades rurais dos países periféricos "constroem" uma natureza diferente das prevalecentes formas modernas. Os significados e usos atribuídos aos ambientes naturais são particulares através da construção de um conjunto de práticas coerentes para pensar, relacionar e utilizar o biológico, ressignificando o mundo atual, o que Leff (2006), com muita propriedade, denominou de cultura ecológica. As sociedades ditas modernas, ao contrário, fazem uma separação entre a natureza, o homem e o sobrenatural; os modelos locais, em muitos contextos, geralmente estão baseados em vínculos de continuidade entre as três esferas e em relações sociais não capitalistas.

É possível cogitar a não dominância dos territórios identitários das populações tradicionais, pelos territórios distantes das indústrias farmacêuticas, corporações científicas, neste processo de (re)significação da natureza.

 

4.  Fundamentação teórica

      

 As visões interpretativas de natureza e da biodiversidade

 

A natureza se reinventa na modernidade pelo seu valor. Florestas, matas, manguezais, cerrado suscitaram valorizações diversas e até contraditórias na exploração, preservação e conservação. É claro que o valor atribuído a estes lugares está vinculado à consciência que os homens têm da sua relação à natureza: de recurso, principalmente econômico, domesticada, espetáculo e/ou exibição e inesgotável; ao contrário, nesta relação ela pode ser ainda, empecilho, selvagem e perecível.

Várias metodologias surgem com o propósito de melhorar a apreciação da riqueza da natureza e mesmo de determinar seu valor econômico. As medições ecológicas, em sua grande maioria, priorizam os fluxos de matéria ou energia ou a identificação de comunidades de espécies de animais e de plantas cuja medida mais usual é a contagem do número de espécies em um dado sítio. Este procedimento é discutível tendo em vista as espécies possuírem abundâncias distintas. As medições da natureza nas perspectivas econômicas tradicionais refletem casos extremos nos quais se termina igualando o preço com o valor do que foi medido. A medida da natureza passa a ser seu valor econômico e o preço ofereceria de políticas ambientais e têm papel importante no avanço da pesquisa científica.

O termo biodiversidade complicou mais ainda os procedimentos de medidas. Sua medição converteu-se em um indicador de valor, em um guia para gestão ambiental e motivo de discussões nas políticas ambientais. Na perspectiva dos ecólogos, biodiversidade é um conceito que engloba pelo menos três dimensões: o conjunto de espécies de animais, plantas e microorganismos; a variabilidade genética das populações de cada uma das espécies; e os sistemas ecológicos incorporando, assim, tanto os elementos não vivos como os processos ecológicos. Cada um desses componentes, por sua vez, pode ser mensurado de diferentes maneiras tal como se mencionou anteriormente, e um dos usos mais comuns é aquele do número de espécies. Ao fazer uso de tais procedimentos a magnitude da biodiversidade brasileira não é conhecida com precisão tal a sua complexidade.

 

As naturezas e reinvenções do Cerrado

 

Como falamos na introdução, o Cerrado apresenta uma perda de habitat de inúmeras espécies animais e vegetais, o que reflete sobre aquelas populações gradualmente privadas de sua base de recursos, comprometendo, assim, sua identidade cultural enquanto homem do Cerrado.

Também, deve considerar-se que a devastação da vegetação natural significa a perda do conhecimento acumulado ao longo dos tempos, sobre o uso medicinal tradicional das plantas pelas populações a elas associadas. Estas, muitas vezes, migram para centros urbanos, provocando a ruptura do saber e conhecimento acumulado em sua vivência com a natureza. Schultes (1994) chega mesmo a denominar este processo de “queima de biblioteca”.

No caso do Cerrado, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que apenas uma terça parte encontra-se pouco antropizada, enquanto que outra terça parte foi muito ocupada, sobretudo em áreas do Mato Grosso do Sul, de Goiás, de São Paulo e da divisa deste com o Paraná. Nestas áreas, os dados de Pires e Santos (2000) demonstram que cerca de 50% a 92% da superfície de Cerrado está fortemente modificada.

Nas últimas três décadas a população residente no âmbito do ecossistema do Cerrado praticamente duplicou. Em 1996, a taxa de crescimento populacional foi superior à registrada para o país no mesmo período. A despeito de um crescimento econômico com base agrícola, a concentração populacional dá-se na zona urbana - o que não impede o avanço acelerado da taxa de desmatamento. Na compreensão de Lima (1998), o processo de ocupação explica-se como uma vitória da ciência e da técnica sobre o objeto “natureza”.

Pesquisas recentes de Villa Real (2001), e Pires; Santos (2000) apontam que no Cerrado existem cerca de 6 mil espécies de árvores, 837 espécies de aves (4º lugar no mundo em importância); 150 espécies de anfíbios (8º lugar em importância); 195 espécies de mamíferos, sendo 18 endêmicas e no que concerne a invertebrados estima-se que o Cerrado abranja 14.425 espécies, representando 47% da fauna, estimada para o Brasil em três ordens de insetos: Lepidoptera, Hymenoptera e Isoptera; 120 espécies de répteis; 738 das 3 mil espécies de peixes já descritas na América do Sul; e 10 mil espécies de plantas (7º lugar de importância mundial). Calcula-se que mais de 40% das espécies de plantas lenhosas e 50% das abelhas aí existentes sejam endêmicas. De gramíneas registram-se mais de cinco centenas de espécies, sendo a grande maioria endêmica da região.

Como exemplos da riqueza da biodiversidade do Cerrado, um estudo feito no norte goiano por Ferreira, H.D.; Silva, W.S.S.; Suares, N.O.(2001 e 2002) mostrou que 53 espécies são utilizadas como medicamentos, dentre elas: Bureré (Brosimum gaudichaudii Tréc, Carobinha-do-campo (Jacaranda decurrens Manso) Amescla(Protium heptaphylum (Aubl)March). Para eles cerca de 10 espécies são utilizadas como utensílios como: jatobá (Hymenaea courbaril L.), Aroeira ( Myracroduon urundeuva Engl. Fr. Allem.), pindaíba (Xylpopia aromatica (Lam.) Mart). Também espécies são utilizadas como alimento no caso o Genipapo (Genipa americana L.,), Araticum (Hymenaea courbaril Mart.,), e o Pequi (Caryocar brasiliense camb.).

A pluralidade de valores frente ao Cerrado nos faz afirmar que a natureza é um conceito plural. Para uns é ecossistema, para outros é capital. Há aqueles que defendem o Cerrado pela beleza de suas paisagens, sacralizam, ufanam-se de um entorno em equilíbrio que outros já o consideram como caótico. Esta natureza está ancorada a um território e é intrínseco ao mesmo.

 

Saberes e grupos sociais

 Uma parte considerável da biodiversidade é criada e mantida por grupos sociais cujas práticas de gestão dependem de saberes que não podem ser reduzidas a uma única dimensão naturalista. As referências culturais como língua, relações socias e visão de mundo constituem elementos essenciais daquelas práticas. O enfoque sobre o tema dos saberes tradicionais e as articulações possíveis deles às ciências e meios técnicos deve ser interrogado com muita atenção. Em particular, a requalificação e a valorização dos saberes tradicionais podem ser usados pelas populações que, estando bem informadas dos debates nacionais e internacionais a respeito da conservação, poderão exigir novos benefícios e direitos.

A revolução verde ou a « ciência para o desenvolvimento » atribuía às populações locais um papel de simples executante do progresso científico. A « governança » contemporânea conta com a participação delas e pressupõe uma outra forma de produção do saber e, portanto, uma outra concepção  da inovação. Esta não é mais dependente de uma dinâmica linear do laboratório em direção ao campo, mas  é ligada a um processo de socialização, seja no setor de agronegócio, seja da agricultura tradicional ou, ainda, na gestão da biodiversidade. Na pesquisa, interessaremos pela recomposição das identidades ligadas à valorização do « tradicional ». As categorias empregadas para caracterizar os saberes e as populações (tradicional, local, moderna) constituirão um desafio teórico desse projeto.

 

5.  Metodologia a ser empregada

 O projeto está pautado numa investigação qualitativa, quantitativa, comparativa e transdisciplinar sobre o uso e apropriação da biodiversidade na ocupação do Cerrado e de como o mesmo modifica as relações sócio-econômicas e culturais no território. Por meio de uma perspectiva reflexiva, busca-se compreender o dinamismo do uso e gestão do Cerrado e a diversidade da interpretação da biodiversidade e da biotecnologia. Com este propósito, discussões serão feitas sobre: a) as condições políticas ofertadas e existentes; b) os instrumentos realmente empregados pelos diferentes atores e sujeitos sociais para afirmar e dar visibilidade às suas práticas; c) os conflitos de representação e de  apropriação.

A originalidade e a força desta proposta é, de um lado, se encaixar em um programa de cooperaçao com a França (IRD e ANR Suds) e, de outro lado, reunir vários mestrandos e doutorandos e docentes/pesquisadores em torno de uma problemática ambiciosa. Este esforço de integração se traduz pela aproximação coerente dos três subprojetos a serem apresentados.

 5.1. Conhecimento popular e valorização das práticas socioculturais

 Justificativa

Ao discutir a biodiversidade do cerrado é essencial abordar os aspectos culturais de seus povos, que têm o papel importante na autogestão dos recursos naturais. Neste sentido, pode-se apontar que o ilimitado universo cultural se relaciona umbilicalmente com a inestimável riqueza biológica.

As populações tradicionais, como por exemplo: os quilombolas e outros que demonstram ligações entre o Cerrado e sua cultura, são geralmente denominados povos do Cerrado - expressão que usaremos aqui para facilitar a identificação dos sujeitos sociais dessa pesquisa.  As populações que permaneceram nas áreas remanescentes deste bioma vêm delineando suas configurações e funções de vida entre os significados tradicionais e valores modernos. Elas persistem na utilização de recursos naturais, sobretudo para assegurar a sua sobrevivência dificultada pela redução da área do Cerrado com desmatamentos freqüentes, construção de barragens e a implantação de uma moderna agricultura.

A sociedade brasileira desprezou os conhecimentos de vários grupos tradicionais, como os índios e os povos cerradeiros. “Se voltarmos a alguns de nossos trabalhos, veremos claramente que os saberes locais, há muito tempo desqualificados pela modernização agrícola, estão em regressão por estarem enfraquecidos por não serem transmitidos” (Pinton e Aubertin: 2007, p. 20).

As práticas socioculturais demonstradas por estas populações revelam um conhecimento e um domínio de plantas, raízes, frutos, além disso, elas confessam uma preocupação com a conservação da natureza. Este é o caso das raizeiras de São Jorge e da cidade de Goiás que as utilizam para o preparo de garrafadas, remédios contra infecções, gripes, inflamações diversas e, outras poções que se destinam a melhorar a virilidade sexual. Outras plantas são destinadas à alimentação como frutas, mangaba, murici, jatobá, siriguela, buriti, cajuzinho, entre outras. Do mesmo modo é do cerrado, de onde pode se extrair plantas utilizadas como lenha, construção de casas, cercas e também artesanatos. Esses usos são evidenciados nas comunidades que usam as áreas conservadas do cerrado, como nos municípios de Colinas do Sul, Alto Paraíso, Cavalcante (em Goiás) e Vale do Rio de Ondas (na Bahia).

 Área de estudos

 A área escolhida para esse estudo engloba as microrregiões norte/nordeste/oeste goiano e oeste baiano. As microrregiões norte/nordeste goiano mantêm um percentual significativo de Cerrado face ao desmatamento para pastagens e expansão da soja, cana-de-açúcar e outros empreendimentos. No norte e nordeste goiano as condições de solo e a ausência de minerais importantes retardaram a ocupação com estas atividades e permitiu que uma população tradicional, inclusive os quilombolas, ali constituíssem um território de povos do Cerrado. Os quilombolas possuem uma organização social elaborada a partir de uma etnicidade, cujas estratégias de reprodução utilizadas têm como finalidade maior garantir o direito à terra. Essa população é objeto de políticas governamentais que ensejam uma integração e um aumento da rentabilidade econômica para melhoria da qualidade de sua vida. É o caso do projeto de introdução de gado curraleiro no Vão do Moleque, com os Kalunga. Outras políticas desenvolvidas são pela SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, pelo INCRA, Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária, pelo MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário, e pelo Ministério do Turismo, com o apoio do SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, que tem atraído turistas interessados em conhecerem as práticas culturais deste grupo.

Já o oeste goiano apresenta expressivo número de acampamentos rurais e corresponde ao núcleo de povoamento mais antigo do estado de Goiás. A despeito disso, possui a cidade de Goiás um grupo de raizeiras que explora a flora local do que resta do cerrado. Esse grupo tem tido o apoio da Comissão Pastoral da Terra e da Articulação Pacary. Essa característica nos faz eleger estas raizeiras como sujeitos. Levantamos a hipótese de que estas raizeiras constituem um repositório de conhecimentos expressivos e saberes tradicionais sobre plantas medicinais e outros. 

No oeste baiano com a introdução inicialmente da soja, as populações tradicionais tentam se organizar para preservar sua cultura e a natureza diversa. Elas contam com o apoio de organizações não governamentais que se interessam pela manutenção de suas características rurais tradicionais. Fato esse que nos faz indagar sobre a atuação das Ong’s e como esses pequenos produtores conseguem resistir até os dias atuais, e quais práticas eles desenvolvem que asseguram sua sobrevivência frente ao modelo imposto pelo mercado da soja. Alguns municípios localizados às margens do Rio de Ondas, no estado da Bahia, compõem a área da pesquisa.

 Objetivos específicos

 - Identificar os saberes locais e culturais definidores para a conservação/preservação da biodiversidade do Cerrado;

- Caracterizar o conhecimento e as práticas socioculturais relativos à biodiversidade e os atuais conflitos existentes que possam estar permeando neste quadro;

- Discutir as relações que permeiam neste território envolvendo estado, populações, Ong’s e setor privado.

 Problematização

 Investigar como essas populações tradicionais, frente ao processo de transformação econômica e social no cerrado, ainda conseguem sobreviver ou manter seus saberes e práticas socioculturais, são inquietações pertinentes. Há uma ressignificação da cultura e da natureza como valores de mercado. Neste novo cenário, estes aspectos passam a ser valorizados sob uma ótica capitalista sendo necessário dialogar com vários interesses. Se esta valorização das práticas culturais está contribuindo para a manutenção dessa população em seus territórios de vivência é um dos questionamentos postos nesta pesquisa. Interessa-nos também saber se as populações tradicionais conseguem ainda sobreviver de recursos naturais e de que forma eles estão sendo apropriados; bem como interrogamos sobre as conseqüências diretas e indiretas de seus usos; os vínculos entre populações, associações, poder público, empresas, indústrias, e organizações não governamentais. Interessa-nos igualmente saber quais biotecnologias elas fazem uso atualmente. Portanto, esta pesquisa coloca em evidencia a real situação dessas populações tendo em vista a valorização de seus saberes e suas práticas.

Outro questionamento que emerge face ao tema proposto é se as políticas referentes ao ambiente têm levado em conta os saberes locais possibilitando, assim, que essas populações mantenham suas práticas. Dentre as políticas governamentais, além das já citadas, destacam-se as voltadas para a salvaguarda do patrimônio imaterial dessas populações, com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Historio e Artístico Nacional, com editais de financiamento de pesquisas, que são executadas por Ong’s e núcleos de pesquisas de diversas universidades. Esse tipo de política objetiva a confecção de inventários. Todo esse material produzido permanece registrado no próprio IPHAN. Outra, a PNPMF – política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos, do mesmo modo, se preocupa com esses conhecimentos populares, incentiva a pesquisa, a produção, a inserção e adequação no mercado, bem com seu controle e segurança de uso. Conforme supramencionado, o rebatimento dessas políticas junto aos povos do cerrado é uma preocupação dessa pesquisa.

 

Metodologia

Esse projeto aborda três temas levando em conta o conhecimento popular e a valorização das práticas sociocultural no espaço do cerrado no que diz respeito: as políticas públicas, as raizeiras, as populações tradicionais. Elas constituem subprojetos a serem desenvolvidos sobre as políticas públicas e legislações federais e estaduais e suas conseqüências para as práticas socioculturais relacionadas à biodiversidade do cerrado; valorização e contribuição de Ong’s na difusão do saber tradicional em Goiás, e as práticas socioculturais das populações tradicionais na reprodução territorial do cerrado.

 

Equipe

Professora Dra Maria Geralda de Almeida (coordenadora)

Professora Dra Florence Pinton, AgroParisTech/IRD, França

Evanildo Santos Cardoso, Doutorando em Geografia

Viviane Custódia Borges, Doutoranda em Geografia

Luiza Helena Barreira Machado, Mestre em Geografia

Wilma Melhorim Amorim, Mestre, Professora na Universidade Estadual de Goiás

  

5.2 Terras indígenas: Território, cultura e acesso aos recursos naturais

 Justificativa

Atualmente, no território goiano, há três grupos indígenas: os Tapuio – Terra Indígena Carretão I e II, localizados nos municípios de Nova América e Rubiataba; os Karajá – localizados na Terra Indígena Karajá no município de Aruanã e os Avá-Canoeiro, localizados na Terra Indígena Avá-Canoeiro nos municípios de Minaçú e Colinas do Sul.

É evidente que estes povos viveram e vivem intensos desafios para manterem a existência, uma vez que seus territórios foram e são cenários de inúmeras disputas e conflitos que provocaram a fragmentação dos grupos causando impactos profundos em seu modo de vida.

Para grande parte das sociedades indígenas o território possui conotação sentimental e abstrata de posse, onde as suas terras são sagradas. Seus costumes, suas crenças, suas relações com o sobrenatural apenas são visíveis e concretos pela presença da comunidade naquele lugar. Diferente das concepções indígenas, a terra no contexto do capital, tem sentido voltado ao lucro. Partindo dessa idéia, fica mais fácil pensar hoje o contexto do Cerrado goiano frente ao novo olhar economicista que vem estabelecendo-se fortemente em muitas regiões, reconfigurando, assim, as mudanças recentes ocorridas, onde o surto de desenvolvimento e ampliação da fronteira agrícola tem acelerado nos últimos anos.

O uso e a ocupação do Cerrado do Sul e Norte goiano acontecem em tempos e espaços distintos, no Cerrado do Sul pode-se observar que está havendo uma apropriação com elementos da Ciência, da Técnica, da Informação e da reprodução ampliada do capital, como o agronegócio que cresce aceleradamente em vários lugares, limitando as paisagens em plantações de cana-de-açúcar, soja, milho, algodão, sorgo, entre outras, afetando sensivelmente o ecossistema e as populações locais que se reorganizam em nome do capital. Enquanto no Norte de Goiás, o agronegócio ainda não se estabaleceu por vários motivos que o inviabilizaram, entre eles o relevo (muito acidentado), e o hidronegócio (representado pela implantação de Usinas Hidrelétricas como a de Serra da Mesa e Canabrava, em Minaçú/Go) que é um forte fator de disputa da água da região.

É nesse cenário de disputas frente a diferentes funções dos espaços (produção, conservação, terras indígenas) que os Karajá e os Avá-Canoeiro vivem. Os Karajá lidam com tensões externas advindas do turismo (Aruanã é a porta do turismo pelo Araguaia), que muitas vezes coloca o índio como produto exótico e vendável e brigas internas entre as famílias que enfrentam inúmeros problemas diante da escassez dos recursos naturais do Cerrado na região que diante da devastação os impede de usufruir e praticar a caça, agricultura, coleta. Assim é necessário intervenção da FUNAI e do Estado na ajuda com bolsa família, por exemplo, para contribuir no mínimo com a alimentação.

Para isso, partiremos da análise espacial atual de suas terras considerando o processo histórico, político e econômico que Goiás se inseriu nos últimos 30 anos.

 Área de estudo

 Para essa pesquisa foram escolhidos os grupos Karajá e Avá-canoeiro localizados no noroeste e norte goiano. Os Karajá encontram-se na aldeia denominada Buridina, com ascendente crescimento vegetativo, hoje com 267 índios (35 desaldeados) e uma limitação territorial que dificulta a sobrevivência física e cultural do grupo que tem três áreas demarcadas e homologadas e também ocupadas ilegalmente por não-índios. A menor dessas áreas localiza-se no centro da cidade de Aruanã. Os Avá-Canoeiro vivem em Terra Indígena, numa área de 38 mil hectares ainda em processo de homologação, na margem esquerda do rio Tocantins, há 14 Km da jusante da Usina de Serra da Mesa que ocupou 3 mil hectares de suas terras. Perseguidos, ao longo dos séculos, os seis índios que restaram nessa área, Minaçú/Colinas do Sul, encontram-se sob ameaça de extinção.

 Objetivos específicos

- Analisar as mudanças no uso e acesso aos recursos da biodiversidade pelos povos indígenas Karajá e Avá-Canoeiro do Cerrado do Noroeste e Norte Goianos;

- Identificar os níveis de inserção destes povos no que se refere aos direitos coletivos relativos ao acesso e utilização dos conhecimentos tradicionais associados à conservação da diversidade. Há um projeto do IPHAN, exemplificando, que visa o tombamento da boneca Karajá como bem do patrimônio imaterial deles; e há projetos de recuperação da área da Terra indígena III;

- Mapear as zonas de tensão e conflitos que permeiam o cotidiano destes dois povos indígenas  identificando, nos Karajá, as fontes de abastecimentos das matérias primas para o artesanato, assim como os lugares ilegais apropriados pelos não-índios; e identificar e mapear nos Avá-Canoeiro a oposição entre o território institucional demarcado, o território de vivência e o território apropriado pela Usina Serra da Mesa.

 Problematização

Algumas questões balizam esta pesquisa: Em que medida a demarcação das terras indígenas permitem o desenvolvimento sociocultural e econômico destes povos? Como estes povos concebem, usam e se apropriam da biodiversidade existente no Cerrado? Quais dos elementos existentes no Cerrado são mais importantes no ponto de vista do uso? Como as relações com os não-índios, ou outras etnias, alteram suas práticas de manejo, seus rituais de caça, pesca, agricultura, coleta? Há preocupação e conhecimento por parte dos povos Karajá e dos Avá-Canoeiro concernentes à proteção legal dos conhecimentos tradicionais que possuem sobre a biodiversidade existente em seus territórios e sobre as práticas culturais que lhes são peculiares? Como proteger, reconhecer e valorar os conhecimentos tradicionais destes grupos?

 

Metodologia

Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo Para sua execução, será necessária a realização de um estudo de caso investigativo e interpretativo. A coleta de informações dar-se-á essencialmente em trabalhos com roteiro de entrevistas organizados na intenção de abrir diálogos com os indivíduos de cada povo. Sabemos das dificuldades em encontrar respostas satisfatórias para precisarmos nossas considerações, desta forma necessita-se de um envolvimento com a comunidade indígena de forma mais duradoura. Concomitantemente ao contato direto com os indivíduos realizaremos um levantamento bibliográfico sobre os traços dos saberes tradicionais inerentes aos povos indígenas, bem como sua relação direta com o uso do potencial da diversidade biológica. Pretende-se ainda investigar os dados dos órgãos envolvidos nesta questão, como ONGs, associações, sindicatos, FUNAI, Furnas, entre outros.

O contato com os grupos por meio de trabalhos de campo proporcionará, de uma forma mais direta, a percepção, reflexão e compreensão das questões propostas. Para que se faça um diagnóstico da situação atual dessas formas de uso serão utilizadas imagens de satélite, fotografias, mapas de uso da terra, juntamente com o cruzamento de dados com as informações obtidas no contato mais íntimo com os povos estudados.

        

Equipe

Professor Dr. Eguimar Felício Chaveiro- UFG/Brasil (coordenador)

Professor Dr. Geoffroy Filoche – IRD/França

Mestranda: Lorranne Gomes da Silva – UFG/Brasil

Mestranda: Sélvia Carneiro de Lima – UFG/Brasil

 5.3. Biotecnologias, agronegócio e agricultura orgânica: impactos na biodiversidade do Cerrado e nos saberes locais

 Justificativa

 Ao referir-se ao Bioma Cerrado verifica-se o uso da diversidade biológica e a apropriação do conhecimento como base para a produção de novas variedades de plantas e animais adaptadas as condições edafoclimáticas da Região Centro Oeste, objetivando viabilidade técnica, retorno econômico e adequação à demanda do mercado.

Vale considerar que a incorporação da biotecnologia na agricultura implicou em um processo acelerado de substituição da “biodiversidade natural”, presente nas diversas fitofisionomias do bioma Cerrado, pela “biodiversidade artificial” produzida com a utilização da biotecnologia na atividade agrossilvicultora. Ou seja, as lavouras comerciais desenvolvidas pelo agronegócio ou pela agricultura familiar constituem-se em ecossistemas simples, com baixa diversidade de plantas e animais, pois substituíram ecossistemas mais complexos com maior diversidade de tais espécies.

Os avanços das novas tecnologias resultam de pesquisas realizadas por empresas privadas do ramo da produção, comercialização de sementes e insumos agrícolas e por instituições públicas de diferentes países que geram novas variedades e novas espécies de animais e vegetais adaptadas a condições ambientais antes adversas ao cultivo de determinadas espécies. A região Centro Oeste, de clima tropical e de solos ácidos, que antes eram considerados impróprios para a agricultura comercial, tornou-se uma das principais áreas produtoras de grãos e atualmente constitui-se na principal região de expansão do cultivo de cana-de-açúcar, graças a pesquisas realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA.

A biotecnologia proporcionou ao agronegócio alterações no padrão técnico de produção à custa de maior dependência das tecnologias empregadas e dos insumos necessários ao desenvolvimento das atividades agrossilvopastoris. A agricultura moderna reduz a maturidade do ecossistema e a diversidade de espécies animais e vegetais, e simplifica os “complexos e entrelaçados ciclos de sustentação da vida que em razão disso entram em curto circuito. O exemplo mais extremo de tal efeito é a conversão dos ecossistemas tropicais em plantações ou fazendas de monocultura”.  (DREW, 1986, p. 147).

Verifica-se que os processos de artificialização da biodiversidade nas atividades do agronegócio são implantados em diferentes escalas de produção. O que diferencia são os níveis de incorporação dos conhecimentos tecnológicos que variam desde a utilização das técnicas da agricultura de precisão com produtos resultantes das pesquisas da engenharia genética, até as técnicas mais simples,  gerando impactos diferenciados na biodiversidade, nas atividades econômicas, culturais e nos saberes das populações tradicionais.

Esse processo promove gradativamente a incorporação de novos conhecimentos e alteram as práticas agrícolas, as relações sociais de produção e a interação com a natureza das populações tradicionais do Cerrado. Resulta daí uma diferenciação espacial da agrobiobiodiversidade em razão dos níveis e da intensidade de incorporação das técnicas de cultivo e criação, apropriadas pelos atores sociais envolvidos no processo produtivo. Manifestam-se, nos discursos e práticas agrosilvopastorism, conteúdos ambientalistas de natureza diversa e representativos das concepções de natureza e biodiversidade dos atores sociais do agronegócio (cana, soja, milho etc) e da agricultura familiar tradicional.

Numa pesquisa dessa natureza, necessário investigar como essas biotecnologias podem fazer o uso econômico e social do Cerrado com impactos ambientais que garantam a sua conservação. Esse Bioma constitui-se em reserva genética como banco natural de genes importantes para a produção de novas espécies de valor comercial.

A questão que procuramos resolver com esta pesquisa é identificar a interferência da biotecnologia na produção e apropriação do território, por meio da análise do agronegócio e da agricultura familiar, nas vertentes da produção convencional (com recursos agroquímicos) e orgânica, bem como entender a interferência que a utilização dos conhecimentos biotecnológicos, nas práticas agrossilvopastoris, têm na preservação da biodiversidade do Cerrado, e quais os impactos decorrentes nos costumes e saberes da população local. Os produtores ao substituírem a vegetação típica do Cerrado pelas variedades cultivadas, pelo agronegócio e pela agricultura familiar, substituem também os conhecimentos produzidos pela população, em sua interação com a natureza, criando uma biodiversidade “híbrida”.

 Área de pesquisa

 A pesquisa será realizada no Noroeste Goiano, na Microrregião São Miguel do Araguaia, com foco no município de Crixás. A escolha se deve à existência de aproximadamente 35% da vegetação do Cerrado preservado e à presença de agricultura familiar tradicional com saberes locais preservados e pecuária de corte vinculada a grande propriedade. A outra área constitui-se das Microrregiões Quirinópolis e Sudoeste Goiano, caracterizadas, a grosso modo, como uma região de forte transformação socioespacial induzida pela ação de empresas e instituições ligadas ao agronegócio e com uma especificidade de “biodiversidade hibrida/artificializada”.

 Objetivos específicos

 - Caracterizar e analisar os sistemas de manejo e as técnicas utilizadas na apropriação do Cerrado pelo agronegócio;

- Analisar como os conceitos de biotecnologia e biodiversidade são produzidos pelos atores do capital e pelos atores locais do Cerrado;

- Levantar e analisar os discursos das empresas agroindustriais sobre a biodiversidade (conservação, preservação e noção) e as práticas efetivas de conservação da biodiversidade.

- Identificar e analisar os impactos da biotecnologia na política bioenergética e no perfil do espaço agrário no Estado de Goiás.

- Levantar e analisar a aplicação da Biotecnologia nas atividades agrossilvopastoris que contribuem para conservação da biodiversidade.

- Identificar e analisar a ação dos atores sociais envolvidos com atividades de agricultura orgânica no Estado de Goiás.

- Analisar as relações sociais e o modo de se relacionar com a natureza derivadas da prática da agricultura orgânica e sua importância para a autogestão e qualidade de vida das comunidades tradicionais e manutenção da biodiversidade dos ecossistemas.

- Comparar a biodiversidade da biosfera em ambientes de Cerrado conservado e em diferentes cultivares (soja, cana-de-açúcar, milho), destacando a fauna e flora presente nos solos dessas áreas.

- Identificar a biodiversidade híbrida presente nas áreas de plantio ligadas ao agronegócio.

- Propor formas de gestão vinculada aos princípios da agricultura orgânica que contribuam para a recuperação da biodiversidade, dos costumes, dos hábitos e do conhecimento tradicionais da população do Cerrado impactados pela aplicação da biotecnologia.

 Problematização

 A principal questão que se pretende resolver com esta pesquisa é saber como a aplicação dos conhecimentos biotecnológicos nas atividades agrossilvopastoris impactam a biodiversidade do Cerrado, tanto pela biodiversidade “híbrida” que produz, como pela biodiversidade natural que altera, produzindo diferentes impactos que necessitam ser melhor dimensionados. Outra questão importante é verificar como as populações tradicionais utilizam a biotecnologia e produzem conhecimentos que são utilizados pela ciência para produção de variedades de plantas utilizadas na agricultura e na pecuária. E, por fim, cabe indagar como a utilização da biotecnologia impacta os conhecimentos e práticas culturais das populações tradicionais do Cerrado.

 Metodologia

Para discutir os conceitos de biotecnologias e biodiversidade torna-se necessário um levantamento e análise de referenciais bibliográficos fundados a cerca dos asuntos pertinentes.

 Na identificação e caracterização da visão que as populações do Cerrado possuem da biodiversidade sendo resultado de uma cultura particular, será propício o contato direto com tais indivíduos em detenção na apropriação do território, no conhecimento local e conservação. Para o sucesso destes propósitos será cabível a visitação, observação direta e conversas, juntamente com entrevistas organizadas para recolher informações importantes para a pesquisa em instituições oficiais, Ongs, associações, sindicatos ligados diretamente com a promoção dos saberes culturais do Cerrado.

Será útil a colaboração dos órgãos competentes que regem o manejo dos mesmos, colhendo informações, históricos, estatísticas e ainda a forma como são aplicados projetos que visam a harmonia entre as novas formas da tecnologia em contato com a Biodiversidade. Para que se faça um diagnóstico da situação atual das terras serão utilizadas imagens de satélite, mapas de uso da terra, fotos aéreas que sirvam como subsídios na identificação e evolução da expansão das áreas cultivadas, como também de informações censitárias dos últimos dez anos.

A importância da aproximação aos sujeitos que englobam o bioma dessa pesquisa, está intimamente ligada ao fato de poder refletir como os conceitos de biotecnologias e biodiversidade têm sido assimilados na cultura local dos povos do Cerrado.

Levantamento de informações sobre a biotecnologia e biodiversidade nos sites das empresas agroindustriais, visando fornecer subsídios para analisar o teor dos discursos produzidos e as ações que refletem uma preocupação com a preservação do Cerrado, será realizado. Num segundo momento serão coletadas informações via questionários ou entrevistas semi-estruturadas nas empresas objetos da pesquisa.

Levantamento de informações por meio de entrevista estruturas e semi-estruturadas junto aos atores sociais envolvidos com a agricultura orgânica (ONG´s, secretarias municipais, instituições de apoio, agência de fomento e certificadoras e os agricultores), para sustentar a análise sobre a dinâmica da agricultura orgânica. 

 Equipe

Professor Dr.Manoel Calaça (Coordenador-Responsável)

Profa. Dra. Juliana Ramalho Barros - IESA

Prof. Dr. Ronan Eustáquio Borges – IESA

Professora Dra. Catherine Aubertin, IRD/França

Prof. Msc. José Carlos de Carvalho – Instituto Federal de Goiás – IFET

Prof. Msc. Romualdo Pessoa Filho - IESA

Mestrando Wagner Alceu Dias – IESA

Mestrando Gilberto Celestino dos Santos - UEG

Acadêmica Bruna Cristina Venceslau - IESA

 5.4. Integração do subprojeto e colaboração dos pesquisadores franceses

 A participação dos pesquisadores franceses será feita em dois níveis: a inserção em cada subprojeto e transversalmente a participação nos três subprojetos.

A profa. Dra  Florence Pinton é socióloga e especialista em processos de requalificação dos saberes e categorias de atores implicados na apropriação da biodiversidade. A sua contribuição será mais efetiva no subprojeto 1. Ela tem larga experiência sobre questões da Amazônia (FLORENCE PINTON, LAURE EMPERAIRE, 2003). O Doutor pesquisador Geoffroy Filoche, jurista, especialista em direito das populações indígenas na bacia do Amazônia  (GEOFFROY FILOCHE, 2007), integrará o subprojeto 2. Finalmente, a Dra Catherine Aubertin, economista do meio ambiente, tem uma experiência sólida sobre dinâmicas de colonização no Centro-Oeste  (CATHERINE AUBERTIN, 1988). Ela estará apoiando o subprojeto 3, relativo aos novos mercados da biodiversidade  (culturas orgânicas, biocombustíveis, crédito de carbono).

Estes três pesquisadores estarão envolvidos ao longo do projeto numa reflexão transversal para explicar de forma integrada e globalizada as transformações em curso do Cerrado. Eles darão ênfase às articulações das escalas internacional, nacional, regional e local (CATHERINE AUBERTIN, FLORENCE PINTON, VALÉRIE BOISVERT, 2007). Eles darão contribuições com dados sobre os avanços das negociações internacionais, os projetos de lei em discussão, a partir dos trabalhos em curso no Programa BioTEK. Este programa international Novas formas de socialização dos recursos biológicos: biotecnologia e gestão participativa da biodiversidade (ANR Sul 2008-2010) tem como objetivo comparar (no Brasil, México e Vietnam) o desempenho daqueles envolvidos na gestão dos recursos genéticos a serem colocados em ação pelos países em desenvolvimento (ver Anexo).

 

6.                  Principais contribuições científicas ou tecnológicas da proposta

       Este trabalho envolve uma equipe multidisciplinar (geógrafos atuando em diversas linhas de pesquisa, sociólogos, economista e jurista) e que atua em um programa de Pós-Graduação e Pesquisa com mestrado e doutorado. Assim, as principais contribuições científicas serão em forma de dissertações e teses sobre os temas biodiversidade e biotecnologia, saberes locais e cerrado. Também, artigos com publicações em periódicos nacionais e internacionais e comunicações em eventos expressivos no país e no exterior.


10. Estimativa dos recursos financieros de outras fontes que serão aportados

 

O projeto  IRD-BIOTEK participará com a quantia de R$ 25.000 (vinte e cinco mil reais) via financiamento da "ANR Suds" (França) para o periodo 2009-2010.

 

11.  Referências do projeto geral

 ALBAGLI, Sarita. Geopolítica da biodiversidade. Brasília: IBAMA, 1998.

 ALMEIDA, Maria Geralda de. Em busca do poético do sertão In: ALMEIDA, Maria Geralda de; RATTS, Alecsandro JP. (Orgs.). Geografia: leituras culturais. Goiânia: Alternativa, 2003, p. 284.

 ______. Cultura ecológica e biodiversidade. In: Revista Mercator, ano 02, n.3. Fortaleza: 2003b, p. 71-82.

 

AUBERTIN, Catherine. La biodiversité: une notion en quête de stabilité. In: AUBERTIN, Catherine (Org.). Représenter la nature? ONG et biodeversité. Paris: IRD Éditions, 2005.

 

______. Fronteiras. Brasília: Editora da UnB, 1988, p. 250.

 

AUBERTIN, Catherine; PINTON, Florence; BOISVERT, Valérie. Les marchés de la biodiversité. Paris: Editions de l’IRD, 2007, p. 272.

Brasil, 2002, 5ª edição, 206p.

 

CASTRO, L. H. R., MOREIRA, A. M., and ASSAD, E. D., 1994. Definindo padrões espaciais de precipitação no Cerrado Brasileiro. In: Assad, E. D. (ed.). Chuvas nos Cerrados: Análise e Espacialização. Brasília: Embrapa-SPI, 423 p. 1994.

 

CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é ser educador hoje? Da arte a ciência: a morte do educador. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Graal, 1989.

 

CHAVEIRO, Eguimar Felício. Os novos temas e as geografias contemporâneas. In: Notas de aula. Goiânia, 2006, p. 6.

 

DIEGUES, Antônio Carlos S; ARRUDA, Pinaldo S. V. Os saberes tradicionais e a biodiversidade no Brasil. Brasília; MMA, p. 211, 2001. Disponível em: <http://www.usp.br/nupaub>. Acesso em 30 de agosto de 2008.

 

DREW, David. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand

 

FERREIRA, H. D.; BRANDÃO D.; SILVIO, L. O.  COSTA D. A. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado senso strictu -  Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. In: Acta bot. brás., vl 16, p. 43-53, 2002.

 

FILOCHE, Geoffroy. Ethnodéveloppement, développement durable et droit en Amazonie. Bruxelles: Bruylant, 2007, p. 649.

 

FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. Administração Executiva Regional de Goiânia/GYN. Setor de Educação e Cultura. 2006.  Hetohoky. Apostila. Disponível em <http://www.funai.gov.br/indios/bertioga/conteudo.htm>.  Acessado em 15/12/2008.

 

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LADOUCEUR, Micheline. As empresas Petroleiras e o assalto às terras indígenas na América Latina: os megaprojetos de gasoduto no Brasil e na Bolívia. In: ALMEIDA, Maria Geralda de; RATTS, Alecsandro J. P. (orgs). Geografia Leituras Culturais. Goiania: Editora Alternativa, 2003.

 

LEFF, E. Racionalidade Ambiental - a reapropriação social da natureza. Tradução de Luís Carlos Cabral. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2006.

 

LIMA, R. B. Natureza: uma categoria do social. In: DUARTE L. M. G.; BRAGA, L. M. S. (orgs). Tristes Cerrados – sociedade e biodiversidade. Brasília: Paralelo 15, 1999.

 

MENDONÇA, M. R. A urdidura espacial do capital e do trabalho no Cerrado do Sudeste Goiano. Dissertação (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Presidente Prudente: UNESP, 2004.

 

MIZIARA, F; FERREIRA, N.C. Expansão da fronteira agrícola e evolução da ocupação e uso do espaço no estado de goiás: subsídios à política ambiental. In: Ferreira, L.G. (org). Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável em Goiás. Estratégias, Prioridades e Perspectivas. Goiânia, SEMARH/Agência Ambiental/Banco Mundial (no prelo), 2007, p. 94-109.

 

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NORDARI, R. O.; GUERRA, M. P. Biodiversidade: aspectos biológico, geográficos, legais e éticos. In: Simões, M.O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. Florianópolis: Editora da UFSC. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.

 

PAULUS, Gervásio. Do padrão moderno à agricultura alternativa: possibildades e transição. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias). Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1999.  Disponível em: . Acesso em 30/08/2008.

 

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PINTON, Florence; EMPERAIRE, Laure. Agrobiodiversidade e agricultura tradicional na Amazônia: que perspectivas? In: BURSTYN, M.; SAYAGO, D.; TOURRAND, JF. (orgs). Amazônia, cenas e cenários. Brasilia: Editora da UnB, 2003, p. 73-100.

 

PIRES, M. O.; SANTOS, I. M. (orgs). REDE CERRADOS – Construindo o cerrado sustentável. Experiências e contribuições das ONG’S. Brasília: Gráfica Nacional, 2000.

 

RIGONATO, V. D. A Dimensão sociocultural das paisagens do Cerrado Goiano: o distrito de Vila Borba. In: ALMEIDA, M. G. (org). Tantos Cerrados: múltiplas abordagens sobre a biogeodiversidades e singularidade culturala. Goiânia: Ed. Vieira, 2005.

 

SCHULTES, R. E. Burning the library of Amazonia. In: The Sciences, March/April, p. 24-31, 1994.

 

SILVEIRA, José M. F. Jardim da, BORGES, Isaias de C. e BUAINAIN, Antônio Márcio. Biotecnologia e agricultura: da ciência e tecnologia aos impactos da inovação. In: São Paulo em Perspectiva. São Paulo, v. 19 n. 2, abr-jun. 2005, p. 101 – 114. Disponível em . Acesso em 30/09/2008.

 

VILLA REAL, B. Guia por onde andar – Roteiros turísticos comentados. Nordeste goiano. Goiânia: AGETUR, SEMARH, 2001.


ANEXO

  


                                                                                                               

Ilma Professora Divina Das Dores de Paula Cardoso

Pró-reitora de pesquisa e pos graduação            

Universidade Federal de Goias

Brésil

 

                                                                                                                          

 

 

 

Montpellier, 15 mars 2009

 

 

 

 

Chère Madame, Chère Professeure,

 

Je, soussignée Geneviève Michon, directrice de l’Unité de Recherche 199 de l’IRD, Innovations socio-environnementales et gouvernance des ressources, déclare approuver la participation de trois chercheurs de mon Unité à la proposition de recherche présentée au CNPq Edital CNPq n° 02/2009.

 

 Le projet « Apropriação do territorio e dinâmicas socioambientais no Cerrado Biodiversidade, biotecnologia e saberes locais » coordonné par la Professeure Maria Geralda de Almeida s’inscrit dans le renforcement de la collaboration entre l’IRD et l’IESA (UFG), dans le cadre du programme BioTEK financé par l’ANR Suds. Le projet apporte un nouveau volet à la recherche en permettant l’intégration d’étudiants en master et en doctorat sur des thèmes et terrains complémentaires.

 

Dr. Catherine Aubertin, directrice de recherche, économiste, Dr. Geoffroy Filoche, chargé de recherche, juriste et Dr. Florence Pinton, Professeure à AgroParisTech, chercheure associée, sociologue, membres de mon UR sont tous trois impliqués directement dans ce projet avec mon total appui. La problématique du projet s’intègre parfaitement aux travaux de notre unité de recherche qui porte plus spécifiquement sur les politiques publiques et l’environnement.

 

En tant que responsable de cette unité, je m’engage à appuyer la réalisation de la recherche proposée par une aide à la recherche de financements nationaux et internationaux, par l’accueil des professeurs et étudiants brésiliens dans les laboratoires de l’UR 199 à Montpellier et à Orléans, et à ce que notre UR participe aux réflexions générales engendrées par ce programme.

  
         Je me réjouis de cette collaboration que je soutiens totalement et espère que ce projet puisse être distingué par le CNPq.

 

Je vous prie de recevoir, Madame, mes meilleurs sentiments,

 


Dr Geneviève Michon

genevieve.michon@ird.fr

 

Directrice de recherche – IRD

Directrice de l’UR 199

Innovations socio-environnementales

et gouvernance des ressources

 

Centre IRD

BP 64501

34394 Montpellier cedex 05

33 (0) 4 67 63 69 61

www.mpl.ird.fr/UR199

 

 

Copies :

- Ilma Professora  Maria Geradla de Almeida, coordinatrice pour le Brésil du projet BioTEK

- Ilmo Professor Joao de Deus, directeur de l’IESA